O mês de julho de 2025 escancara o aprofundamento da crise militar e diplomática entre Rússia e Ucrânia, agora marcada por ataques cada vez mais devastadores a cidades, impasses no campo diplomático e uma corrida por sistemas avançados de defesa aérea. Todos esses elementos se entrelaçam, ampliando o sofrimento civil e reforçando a percepção de que o desfecho da guerra segue distante, apesar da pressão internacional crescente.
A ofensiva aérea intensifica o sofrimento civil
Em meio ao fracasso da terceira rodada de negociações de paz em Istambul — que durou menos de uma hora sem produzir progresso real em direção a um cessar-fogo — Rússia e Ucrânia intensificaram ataques diretos às costas do Mar Negro. O porto de Odesa se tornou alvo de uma ofensiva russa massiva com drones, causando feridos, destruição no centro histórico e incêndios em pontos centrais da cidade. Impactos similares foram sentidos em Cherkasy.
Como resposta, drones ucranianos atingiram a região russa de Krasnodar e a cidade turística de Sochi, onde destroços de um aparelho abatido resultaram em mortes, feridos e impactos à infraestrutura energética local. Esses episódios ampliam o risco, levando a guerra para áreas antes menos afetadas e demonstrando a vulnerabilidade de cidades importantes tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia.
Paralelamente, o leste da Ucrânia segue sob bombardeio. Kharkiv e Kostiantynivka foram atingidas por bombas aéreas guiadas e ataques que mataram civis, feriram dezenas — incluindo crianças — e destruíram bairros residenciais e empresas. O aumento da frequência e da potência desses ataques evidencia o colapso temporário das negociações e a tendência de escalada bélica na região.
Estagnação diplomática: Cúpula Putin-Zelenskyy só ao fim do processo
No campo diplomático, o Kremlin deixou claro que só aceitará um encontro direto entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelenskyy no estágio final das negociações — ou seja, apenas para a assinatura do acordo, não para destravar impasses. Essa postura indica que a Rússia aposta em negociar termo a termo com grupos técnicos, mantendo a pressão militar até obter um consenso sobre pontos considerados capitais para Moscou.
Apesar da proposta ucraniana para uma cúpula entre os presidentes já em agosto, o porta-voz do Kremlin afirmou ser improvável avançar rapidamente, citando as “diferenças diametralmente opostas” entre as posições das partes e a necessidade de negociações exaustivas e detalhadas. O cenário é agravado pela pressão dos EUA, que estipularam um prazo de 50 dias para um progresso significativo, sob risco de novas sanções à Rússia e seus parceiros econômicos.
A corrida por sistemas de defesa: Patriot e os desafios do financiamento
No epicentro dos esforços defensivos da Ucrânia está a obtenção de sistemas avançados de defesa aérea para proteger as cidades do crescente número de ataques. O presidente Zelenskyy anunciou, neste contexto, a garantia de financiamento internacional para três sistemas Patriot — dois bancados pela Alemanha e um pela Noruega. Outras sete unidades ainda dependem de negociações e aporte financeiro suplementar, com interesses da Holanda e de outros países europeus, somando-se aos esforços dos Estados Unidos no envio de bilhões em ajuda militar.
O desafio da Ucrânia não é apenas garantir a chegada desses sistemas, mas também o fornecimento pleno de mísseis e licenças para produção local de componentes — passos esses considerados vitais para fortalecer a autonomia militar no médio e longo prazo. O contexto financeiro segue desafiador, com déficit de US$40 bilhões projetado para o próximo ano apenas para despesas de defesa, além da necessidade de captar US$25 bilhões adicionais para fabricação de mísseis, drones e sistemas de guerra eletrônica.
Implicações e riscos de um conflito prolongado
A escalada do conflito, somada ao impasse diplomático e à dificuldade de financiamento da defesa, delineia um cenário preocupante para ambos os países e para a segurança regional. A ausência de avanços concretos na mesa de negociação mantém em curso uma guerra de desgaste, marcada por sofrimento civil em áreas urbanas, destruição de infraestrutura crítica e o uso intensivo de armas avançadas em zonas populosas.
As constantes ofensivas comprovam que, enquanto não houver avanços reais nas negociações e no reforço da defesa aérea ucraniana, o conflito tende a se aprofundar, colocando mais vidas em risco e tornando o caminho para a paz cada vez mais difícil e custoso.
Vídeo no canal: https://youtu.be/VNzwQkxBQx0